A SOCIEDADE DA COMPLEXIDADE
Por Marco Bastos
" La antigua patología del pensamiento
daba una vida independiente a los mitos y a los dioses que creaba. La patología
moderna del espíritu está en la hiper-simplificación que ciega a la complejidad
de lo real. La patología de la idea está en el idealismo, en donde la idea
oculta a la realidad que tiene por misión traducir, y se toma como única
realidad. La enfermedad de la teoría está en el doctrinarismo y en el
dogmatismo, que cierran a la teoría sobre ella misma y la petrifican. La
patología de la razón es la racionalización, que encierra a lo real en un
sistema de ideas coherente, pero parcial y unilateral, y que no sabe que una
parte de lo real es irracionalizable, ni que la racionalidad tiene por misión dialogar
con lo irracionalizable." (EDGAR MORIN)
Vivemos
cada vez mais em uma
Sociedade que está sob a égide dos 'fenômenos complexos'.
Parece que a necessidade de reconhecer e agir em conformidade com isso, no
campo econômico-social, hoje é subestimada e por isso, talvez, tal complexidade
seja menosprezada pelo senso comum que é suficientemente arrogante para
considerar que de tudo entende. Vemos o mundo pela lente dos nossos paradigmas.
As
Ciências Físicas gradualmente esgotaram ou superaram a descrição determinística,
das ações e reações, das causas e efeitos, mecanicista, para melhor entenderem
os seus fenômenos e controlarem os seus processos. Da Mecânica Clássica, da
Mecânica Celeste meramente descritiva evoluiu-se para os modelos
probabilísticos, para a Física Quântica e Relativista, com Plank, com Einstein,
com Heisenberg que enunciou e demonstrou o Princípio da Incerteza, e do micro
ao macro, entrou-se na intimidade da matéria e remodelou-se o Espaço, através
de uma nova Astrofísica.
O
Espaço é como é por conter o que contém, e contém o que contém por ser como é.
A Invariância de Escala a definir os modelos de auto-semelhança tal qual nos
fractais, espelha a ordem no caos.
A
Cosmologia no seu périplo cosmogônico aproximava-se do que se intui seja o Tao
- na coexistência, interação e interpenetração dos opostos, no todo
inseparável, matéria-tempo-espaço, porque afinal a Ciência não esterilizou ou
aboliu a intuição humana. Ao que parece o Tao é a essencial não-essência do
agnóstico.
Geometria
dos espaços multidimensionais, Riemann, Física Relativista, enorme esforço
intelectual para aprimorar os modelos e para submetê-los ao que se compreende, ao
que se percebe ou se verifica como sendo "realidade". Para isso foi
preciso eliminar ao máximo aqueles conceitos subjetivos e abstratos que criam
elementos artificiais inexistentes na Natureza e que teriam sido
"construídos" para dar consistência intrínseca aos modelos incompletos.
Assim
ruíram várias teorias nos campos da Física e das Ciências Naturais, das
Ciências Biológicas e impõe-se o Mundo do objetivismo e da objetividade.
A
Termodinâmica encontrou na Entropia a medida para o caos. Os modelos dos Gases
Ideais alcançaram os seus limites e preponderaram a Teoria Cinética dos Gases
probabilística e o empirismo das Equações dos Gases Reais.
Na
Ciência do Conhecimento e da Inteligência, Cibernética, Wiener nos fala do
mundo "contingente e probabilístico" e propõe que a Informação seja
nos sistemas sociais o equivalente à entropia dos sistemas físicos.
No
Holismo, na Ecologia, o célebre: "bater das asas de uma borboleta na Ásia resultando
em um tsunami na América Latina", metáforas ou meras intuições, a nos
falarem sobre equilíbrio estável, aquele que permite retornar à posição inicial
os Sistemas que modificaram o seu estado e, por recorrência e fechamento, também
sobre o equilíbrio instável, no qual o estado de equilíbrio nunca seria
naturalmente recuperado, uma vez o Sistema se desequilibrasse.
Na
Filosofia, na Metafísica, a Dialética Idealista cede espaço à Dialética
Materialista, e essa mesma Dialética, deu origem a um processo que transforma a
Filosofia em ideologia. No entanto, ao se tratar do Conhecimento, toda
ideologia conduz à cristalização de paradigmas e ao distanciamento do
homem-como-é do seu mundo-como-é: estado, processo, potência e ato. Sabemos que
ambos, homem e mundo são capazes de mudanças e a compreensão e o entendimento
da realidade momentânea, efêmera, transiente e transitória pressupõe a
permeabilidade e a flexibilidade que a ideologia costuma neutralizar. Tese,
antítese e na síntese aquela dialética trazia em seu bojo a demonstração da sua
lucidez e da completude do seu modelo: na própria tese havia a antítese
imobilizando-a (através da ideologia).
Em
tempos tão confusos, nova Idade das Trevas (?), toda a aspiração humana passa a
ter um objetivo meramente econômico que pleiteia e prescreve o crescimento da
riqueza material, ou a transferência de renda entre as classes sociais ou as
duas coisas simultaneamente.
As verdades apriorísticas, éticas, Liberdade, Fraternidade, Igualdade, teriam que comprovar a sua eficaz veracidade, transformando a Humanidade de forma, ou como se, o Homem fosse Igual, Fraterno e Livre.
Nesse caso ao que parece o modelo superpõe-se ao que se constata embora isso não anule a possibilidade de acontecer essa verdade no devir.
As verdades apriorísticas, éticas, Liberdade, Fraternidade, Igualdade, teriam que comprovar a sua eficaz veracidade, transformando a Humanidade de forma, ou como se, o Homem fosse Igual, Fraterno e Livre.
Nesse caso ao que parece o modelo superpõe-se ao que se constata embora isso não anule a possibilidade de acontecer essa verdade no devir.
A
Economia coopta a Filosofia e a substitui na função de definição dos valores.
Nietzsche nos fala sobre a Genealogia da Moral e alerta que o 'bom' corresponde
ao 'bônus' latino, recompensa monetária; sinédoque de número, o todo pela parte.
O
estado de "bem-estar", o sentido de progresso e evolução associou-se
principalmente à capacidade de "consumir" coroada sobre outras
conquistas em outros campos tais como o da saúde, da educação, da segurança,
etc.
A "mão invisível", imagem do próprio bio-sócio ectoplasma, com Adam Smith ou a intervenção do Estado sobre a Economia, com Keynes ou Marx, regulando sobre a riqueza, emprego e renda, incumbir-se-iam de propiciar que tal estado de prosperidade e bem-estar fosse alcançado.
A "mão invisível", imagem do próprio bio-sócio ectoplasma, com Adam Smith ou a intervenção do Estado sobre a Economia, com Keynes ou Marx, regulando sobre a riqueza, emprego e renda, incumbir-se-iam de propiciar que tal estado de prosperidade e bem-estar fosse alcançado.
O
Pensamento ocidental transitou de Sócrates, Platão e Aristóteles, para Kant, Hegell,
Engels e Marx, como idéias principais. As variantes periféricas, as ideias e percepções de outros filósofos intimistas, religiosos e existencialistas foram menos condicionantes, e menos sistematizadoras no que se refere a se converterem em dogma e práxis social e
política. Para o teísta Teillard de Chardin a evolução se dá em
direção à crescente complexidade (convergindo para Deus).
Na
linha dos que acreditam que "as nádegas reequilibraram o corpo e,
libertando as mãos do Homo Erectus, permitiram que pela utilização das mãos se
desse o desenvolvimento da capacidade cerebral", a Filosofia e a Economia
se unificam e o "conhece-te a ti mesmo" agora tem um objetivo no aqui
e no agora: fazendo o pobre menos pobre e o rico menos rico, todo o drama
humano estaria resolvido com os dogmas dos dois capitalismos, o do Estado e o Privado.
Para os espoliados pelo grande Leviatã ou engolidos no capitalismo do time-is-money, a outra facção político-filosófica se apresentava como tábua de salvação, e revestia-se, por conseqüência, de pretensas qualidades libertárias e niveladoras dos desequilíbrios sociais.
Para os espoliados pelo grande Leviatã ou engolidos no capitalismo do time-is-money, a outra facção político-filosófica se apresentava como tábua de salvação, e revestia-se, por conseqüência, de pretensas qualidades libertárias e niveladoras dos desequilíbrios sociais.
Não
mais Gestalt, agora Behaviorismo. Não mais Filosofia, agora Sociologia e
Ciências Políticas e dentre essas a Economia. O Homem colocou-se ou se
descobriu no centro do Universo. Não mais interessava conhecer e entender o
Conjunto, mas sim administrar os relacionamentos para gerar comportamentos
adequados. E a Ciência Social andou no sentido inverso ao das Ciências Físicas.
De
fato, pela ignorância e limitação dos meios e da parca capacidade de
estruturação de soluções, as Ciências Físicas iniciaram o seu "corpo de
ciência" no campo do empirismo Operacional e a partir daí evoluíram para a
compreensão do Universal.
As Ciências Sociais e em particular a Filosofia, iniciaram suas perquirições no campo do Universal e reduziram-se ao campo do Utilitarismo, satisfazendo-se por pretensamente conseguirem domar o Capital, subjugando valores morais e éticos ou os ajustando ao que se pretendia que fosse o Homo Economicus.
As Ciências Sociais e em particular a Filosofia, iniciaram suas perquirições no campo do Universal e reduziram-se ao campo do Utilitarismo, satisfazendo-se por pretensamente conseguirem domar o Capital, subjugando valores morais e éticos ou os ajustando ao que se pretendia que fosse o Homo Economicus.
Pobres
políticos, que se colocam como condutores da História. Nepotismo, corrupção,
ausência de referenciais e de valores morais e éticos. Fisiologismo do
"toma-lá-dá-cá", "é dando que se recebe", em tudo parecendo
os jogos de meninos. Pretensos líderes, ingênuos arrogantes sem espelho, se
fartando no poder. Precisam conhecer Edgar Morin.
A
Humanidade com o desenvolvimento das Ciências da Saúde, Nutricionais, da
Química, da Física, da Engenharia e Urbanismo etc., por ter alcançado condições
materiais de saúde, habitação, trabalho e vida mais saudáveis encontra-se em um
processo de explosão populacional sem precedentes. Tal processo vem acompanhado ou produzido
pelo relaxamento dos referenciais culturais, dos valores morais, éticos, e de
responsabilidade social. Ao que parece somente a pequena-burguesia não praticou
ao longo da História a liberdade sexual e as populações nas classes
materialmente menos aquinhoadas sempre foram desproporcionalmente maiores.
Ao
lado desse crescimento populacional desenfreado acrescente-se a "mentalidade" e a significância do valor social dado à capacidade de
consumir assoprada pela efetividade das Ciências da Comunicação e da Indústria da
Publicidade - alcança-se como querem os economistas uma elevada propensão
marginal ao consumo.
Chegamos à uma equação já antiga, formulada por Malthus, mas não denominada de Equação da Inconseqüência : Inconseqüência = excesso de população + consumismo.
Chegamos à uma equação já antiga, formulada por Malthus, mas não denominada de Equação da Inconseqüência : Inconseqüência = excesso de população + consumismo.
E
a quem satisfaz essa equação?
O
crescimento da Inconseqüência satisfaz ao Capitalismo do Time-is-Money por
representar vendas crescentes e consequentemente elevação da remuneração do
capital (lucros).
O
crescimento da Inconseqüência satisfaz ao Capitalismo do Estado tendo em vista
que massas populacionais significativamente grandes e crescentes são
dependentes do Estado, legitimam o discurso populista das esquerdas, dão
consistência a esses regimes políticos e fortalecem o poder e o status-quo.
Como
ao Homo-Sapiens restou apenas o valor representado pelo 'ter' e pela capacidade
de consumir, seria de se esperar que o Império da Inconseqüência se
implantasse. Thanatus e Eros se apaziguaram e o mundo hedonista cuidaria para
que afinal o Homem fosse feliz.
Se
os sete bilhões vivessem como os paulistanos, três planetas-Terra seriam
necessários para disponibilizar os recursos materiais.
Ultrapassado
o limiar da dor, mais dor não é sentida.
O
que escrevi acima foi só para organizar meus pensamentos e na impossibilidade
de tratar a imensa variedade de situações, me atenho somente àquelas que
independem de Estatísticas, são compreensíveis pela própria vivência diária de
todos nós, e apontam para a existência de desequilíbrios incontestáveis.
O
CAOS NO MEIO AMBIENTE.
Insalubridade e poluição, esgotamento e comprometimento de fontes de recursos, desorganização urbana, favelas, incluindo a saturação no trânsito nas áreas com maior concentração demográfica a gerar stress e ônus pelo comprometimento do tempo de 30% ou mais das horas normais de trabalho - tributo que a população paga ao Estado mal gerido. Catástrofes climáticas e ambientais. Deslocamento das pessoas para os grandes centros - é absurdo o vazio dos campos, o despovoamento do interior e ao mesmo tempo haver a degradação das condições de vida nas cidades grandes.
Insalubridade e poluição, esgotamento e comprometimento de fontes de recursos, desorganização urbana, favelas, incluindo a saturação no trânsito nas áreas com maior concentração demográfica a gerar stress e ônus pelo comprometimento do tempo de 30% ou mais das horas normais de trabalho - tributo que a população paga ao Estado mal gerido. Catástrofes climáticas e ambientais. Deslocamento das pessoas para os grandes centros - é absurdo o vazio dos campos, o despovoamento do interior e ao mesmo tempo haver a degradação das condições de vida nas cidades grandes.
O
CAOS NO SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL.
Os
capitais fungíveis e as explicações para a enorme amplitude de variação na
cotação dos ativos no mercado de capital. Os déficits, o nível de desemprego, e
as tentativas desesperadas de evitar a ruptura total do sistema financeiro através
de orçamentos fabulosos. O entrechoque das opiniões. O desabastecimento. O
estado precário de saúde, de nutrição, de educação e da capacidade de inserção
no sistema econômico de grandes contingentes populacionais.
O
CAOS NAS INSTITUIÇÕES.
Invasão
de repartições públicas e organizações privadas. O recrudescimento de
movimentos sociais, a inércia dos governos. Migração de populações. A violência urbana. As organizações
paramilitares, o crime organizado. Guerras, genocídio, e êxodos forçados de sobreviventes.
É sobre essa poesia
que nós pobres poetas devemos nos debruçar, sem, no entanto descambarmos para a
arte engajada, desde que não queremos estar a serviço das mesmas forças que
degradam a Humanidade. Não dá mais para nos encantarmos somente com os
relacionamentos amorosos, com o corpo humano e com a libido, esquecendo-nos do
mundo em que vivemos. E, no entanto, não devemos desprezar o que enfeita a vida
e a faz mais bela e saudável.